quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dalila.

Pois é, voltei =D
Com um texto aleatório de uma aula de História... 

   Sem medo, subo a encosta de uma existência sempre vazia, sempre incompleta, uma palavra em nanquim preto, insípida, em uma folha em branco. Mas escalo, me corto e me machuco, a mim e por mim mesma, eu subo.

   Sem vontade, abro a porta de uma nova casa, o apogeu da luz mortiça do fim do dia no chão de madeira empoeirada, cuja cor original não se sabe, morre em meu olhar indiferente e pálido. A luz ocupa seu espaço e não tem barreiras, em seu absolutismo revela o vazio do cômodo. Melhor seria de mim e de meu vestíbulo se houvesse uma sombra, mesmo que esguia incerteza, presente, mesmo que inconstante, para preencher o ar pesado e o tédio.

   Pouso-me perante a janela. Um cenário sem sentido entretem minha vista. Reluto em desprender-me do fundo irreal que me mantém imóvel, meu olhar fixado em algum ponto incerto. Reluto em sair de meu desinteresse consciente, pois que ao menos este me entretem enquanto reluto.
   A luz mente e ilude ao me mostrar o que quer que eu veja, eu acredito, ou não me importo. Como sempre, sigo os passos sem saber para onde vão. Não dou importância à penumbra e o "ele" que se esconde em sua ardilosa segurança. 

   Ardilosa...

   Palavras aleatórias ecoam em minha mente. Minha mente trabalha silenciosamente sem me desprender da janela. O cenário abstrato parece me hipnotizar... 

   Ignóbil... 

   Não mesmo.

   O "ele" me olha de dentro de sua sombra. O "ele" sussurra palavras em meu devaneio ansioso. Ignoro-o, mas não o fazem os ecos. 

   Perene... 

   Sim, perene. O quarto, o vazio, a janela.

   O "ele" me toca. 

   Fugaz... 

   O calor se vai, o sonho se fecha, se tranca. 

   Tênue.

   Abro os olhos para a escuridão do nada. O cheiro de mato me invade os pulmões. O frio acaricia meu rosto.

   A janela é um cenário entediado. Imutável. Sento-me. Olho ao redor. O vazio agora está somente em mim, o quarto está repleto de quinquilharias, de falsos sentimentos. Livros, cartas, fotos, bonecas, mas ainda em mim o mesmo final de tarde.

   Deito-me e busco por meu sonho novamente. Ardiloso, ignóbil, perene e fugaz. E Tênue. Volto para o "ele".

   O quarto é diferente, mas igual. Cenários conhecidos passam rapidamente pela janela. O tempo corre do lado de fora. Aqui, neste cômodo, o tempo é estagnado, uma parte iluminada pela luz proveniente do movimento, uma parte obscura pela penumbra da lembrança.

   Olho para a nova face que se esconde no escuro, o "ele" é outro agora.
Reconheço-o sem saber quem é. "Ele" balbucia palavras, e eu as entendo, sem realmente ouví-las.

   Foram elas palavras minhas, palavras que não chegaram a sair de minha garganta, mas que foram minhas. Foram palavras que ecoaram em meus corredores vazios, e se perderam.

   No lugar, há o "ele, o "eu", e agora, o "ela". O "ela" perambula de um lado para o outro, inquieta.
   Seu rosto na luz é um, na sombra outro e, de volta à luz, um novo. Não sei quem ela é. Seu movimento irregular me perturba. Segue uma lógica que eu não compreendo.

   O "ele", como sempre, continua imóvel, sussurrando memórias, palavras e, agora, nomes.

   Dalila...

   O nome vira um rosto em minha mente distraída, mas desprezo-o, ignoro-o, esqueço-o. Este rosto já não existe mais. Tudo que faz agora é me fazer sentir dor.

   Quero voltar à janela, quero voltar ao nada, quero estar novamente sozinha, desesperadamente. 
   O "ele" me atormenta com imagens que já me cansei de ver, com sons que já me enjoei de ouvir, palavras que já conheço bem, sermões que já sei de cor. Me obriga a me lembrar de rostos que já não conheço, que já não me dizem nada.

   O "ela" me inquieta, me força a reconhecer sua existência, se mantém no escuro, me trata como uma criança ansiosa que não compreende o que acontece, o que pode acontecer, o que virá a acontecer. Mas me força a assistí-la atentamente, nem que pelo canto do olho.

   O "ela" é imprevisível, mutável, misterioso, preocupante. É uma sombra disforme se movendo à minha frente, que nunca posso alcançar, que nunca posso entender.

   O "ele" é constante, conhecido, irritante, indesejado. Provoca sensações que não quero sentir de novo. Mas ele está sempre lá e é impossível ignorá-lo. 

"Ele" me segue ao mesmo passo que eu caminho, sem olhar pra trás, ao mesmo passo que escalo minha existência vazia e incompleta.

   "Ela" pára, e desaparece. Agora tudo que tenho é o "ele", que nunca quis ter.

   Pela última vez, acordo. Pela última vez, respiro. Pela última vez olho para as fotos na janela e então, sem mais nada à fazer junto-me à Dalila. 


O que vocês vão fazer agora é responder as perguntas à seguir agora, nos comentários ok
1- Quem é Dalila?
2- Que representam as figuras:
a) do primeiro "ele"
b) do segundo "ele" e do "ela"
c) do primeiro e do segundo quarto.


Eu sei, eu sei, parece interpretação de texto, mas eu preciso dessas respostas pra avaliar meu texto D:
Aceito críticas também, alias peço por elas.