Volto a lhes tomar o tempo com mais uma de minhas confabulações tendendo ao errôneo e mais ainda ao desequilibrado choro de alguém que se dizia mais forte que isso. Posso afirmar que vou chorar enquanto escrevo, disto estou certa, mas suponho e espero que me faça algum bem.
Conto-lhes hoje sobre como é perder alguém. Não apenas alguém importante, mas uma das criaturas que você jurava que iriam viver para sempre, uma das criaturas que você simplesmente não conseguia imaginar não estando lá.
Hoje lhes conto sobre como é perder um amigo, não em poemas ou líricas mas com o que gosto de pensar como pura e simples “sinceridade”.
De fato, reconheço, não sei se devo dizer a você, leitor, de quem se trata a dissertação de hoje. Posso por enquanto afirmar que ainda não aceitei o fato dele ter se ido para o grande espírito (Shaman King much, but I do like the idea). Posso também dizer que por mais clichê que possa parecer, nunca vou esquecer aqueles olhos castanhos. Para efeito de explicação deixo, enfim, clara, a identidade do tão amado amigo: Ele era um Golden Retriever, seu nome era Attila, ele fará 3 anos dia 10.
Ponho em termos técnicos o acontecido:
Três dias atrás ele e a Giullietta(minha cadela) decidiram experimentar “Torta de Mamona”. Agora, o engraçado sobre a mamona é que sua semente possui uma proteína chamada “Ricina”, proteína esta que está entre uma das substancias de maior toxicidade conhecidas pelo homem, alem de outros alergênicos inconvenientes. Apesar de Attila ter vomitado a maior parte e Giullieta mal ter tocado no dito veneno, os dois começaram a ficar letárgicos.
Letárgico eu digo, no mesmo dia. Levamo-nos ao veterinário, um de confiança que já conhecidamente salvara animais de amigos da família. Lá Attila tomou soro, e o profissional receitou um agente que “amenizava” a toxicidade no sistema digestório do animal, um agente baseado em componentes do carvão mineral. Também receitou uma mudança na alimentação dos dois para fins de limpeza do trato.
No segundo dia, dois dias atrás, na páscoa, Attila estava mais letárgico que antes. Vomitara grande parte do pouco que comera e bebera, alem do sangue. Mal se mexia e dificilmente se levantava. Passamos a tarde de páscoa cuidando dele, limpando suas patas sujas de vômito que, à esta altura, se tratava de qualquer coisa que ele engolisse. O limpamos e secamos da melhor maneira que pudemos, mas ainda prevalência o cheiro de bile e sangue. O levamos à uma clinica veterinária mais tarde no mesmo dia, preocupados com a desidratação dele, já que nada que ele tomava ficava no estomago mais que 10 minutos. Optamos por não interná-lo, o que hoje me parece a coisa mais estúpida que poderíamos ter feito, e levá-lo no dia seguinte ao veterinário de família.
Ontem, como de costume, de manhã cedo fomos ver o estado dele. A área onde ele dorme estava coberta de sangue e urina, sangue e vômito, e mais uma vez aquele cheiro forte que insistia em praguejar o local. Ele não se levantou quando chamamos. Eu não tive coragem de mexer nele, meu pai insistiu, queria colocá-lo em um lugar seco pra limpar as patas e pescoço dele, e ajudou-o a levantar. Pra meu horror, vou admitir, ele não se agüentou de pé.
O que se seguiu foi um dia de tensão, não consegui me concentrar em nada. Liguei minha mãe no intervalo. Ela o levara no veterinário e dissera que ele passaria o dia lá tomando soro.
Nada tão relevante aconteceu até mais tarde.
Mais ou menos as 8 da noite meu irmão me chama. Vou até a sala e meu pai diz, para todos reunidos: O Attila não resistiu ao tratamento.
O tempo parou depois dessas palavras. Quando algo assim acontece, suponho, a dificuldade está em se fazer acreditar que não é apenas um sonho ruim ou uma piada de mal gosto, a dificuldade está em aceitar aquele fato absurdo que, como mais cedo disse contradiz todas as crenças de que seu amigo viveria para sempre e estaria para sempre ao seu lado.
Passei o dia tentando me fazer acreditar que é melhor chorar, e ao mesmo tempo tentando segurar a todo custo as lágrimas, porque, afinal não queria deixar ninguém preocupado e principalmente, não queria uma rodinha de pessoas que mal falam comigo tentando me fazer sentir melhor, coisa que sabia que não ia acontecer.
Por mais clichê que o final possa parecer agora, eu não ligo. O Attila foi o melhor cachorro que eu poderia ter tido, ele foi amado até o final e espero que onde quer que ele esteja ele saiba disso, e me desculpe por não ter sido uma dona melhor.